Malone Morre

Malone est?em um quarto, n緌 sabe bem como e nem porque chegou ali, lembra-se vagamente de sua pr鏕ria vida e tem apenas uma certeza, a de que vai morrer. Enquanto espera, protela este ico acontecimento contando as hist鏎ias "nem bonitas nem feias" das fam璱ias Saposcat e Louis, de Macmann e Moll. Escrito em Paris no final dos anos 1940, Malone morre forma com Molloy e O inomin嫛el - ambos publicados pela Biblioteca Azul - a famosa "trilogia do p鏀-guerra". Sapo, o filho mais velho da fam璱ia Saposcat, ?um adolescente robusto e loiro, quieto e dado a devaneios. Ouve as conversas de seus pais e parece n緌 entend?las, embora eles discutam o tempo todo o seu futuro, que acham promissor, dada a sua cabe蓷 ter uma apar瘽cia inteligente. Sapo, entretanto, prefere cismar em meio 跴 coisas, sem pretender compreend?las. Amante da natureza, aceita o sol, a lua, os planetas e as estrelas "com uma esp嶰ie de alegria" ing瘽ua e gratuita. A pobre fam璱ia Louis compunha-se de dois irm緌s, a m綣 e o pai, conhecido como grande Louis, e que era famoso sangrador e esquartejador de porcos. Viviam em uma pequena fazenda e a vida da fam璱ia gira em torno do pai, que passa o ano todo ?espera das ocasi髊s em que tem trabalho, para as quais afia com esmero suas facas. Ap鏀 o esfolamento, passa o resto do ano relatando em detalhes a matan蓷, para ele sempre diferente, a despeito do desinteresse de seus filhos e esposa. J?Macmann surge na narrativa em um momento em que ?surpreendido pela chuva. Em vez de apressar-se, resolve deitar-se para assim preservar um dos lados seco. Passado algum tempo - e em Malone morre nunca se sabe quanto -, Macmann recobra os sentidos e est?em um asilo, que pode ser quarto ou cela. Ali conhece Moll, designada para cuidar dele. Ent緌, velho, decr廧ito e repulsivo, Macmann vive com Moll o seu primeiro e definitivo amor, como um insepar嫛el abra蔞 de n嫠fragos. Malone ?um homem devastado, em meio ao sereno desespero que caracteriza outras criaturas de Beckett. Ele conta hist鏎ias para evitar a reflex緌, para distrair-se e enganar a morte. Em meio 跴 hist鏎ias vai se lembrando de quem ?e toda a sua fala s灀rega ?uma tentativa de reconhecer-se, de formar para si mesmo um enredo que se complete: "O tanto de hist鏎ias que contei para mim, enganchado no mofo, e inchando, inchando. Dizendo a mim mesmo, ?isso a? eu a consegui, minha lenda". Al幦 das hist鏎ias, Malone quer fazer um invent嫫io de suas posses, mas estas sempre se mostram refrat嫫ias a sua inten誽o catalogadora, porque em suas posses h?objetos que n緌 se dobram 跴 categorias que inventa. Contar hist鏎ias, inventariar posses, repassar lembran蓷s s緌 recursos de Malone para manter-se vivo, pois Malone est?apegado 跴 coisas, a si mesmo, e tenta com ardor despojar-se, dissolver-se, deixar-se ir. Malone persevera em sua caixa-cripta, atualiza誽o poderosa de personagens emparedados como Gregor Samsa e o homem do subsolo de Dostoi憝ski, e reafirma, obstinado, sua op誽o pela vida apesar da dor: "Ali嫳 pouco importa se nasci ou n緌, se vivi ou n緌, se estou morto ou somente morrendo, vou fazer como sempre fiz, na ignor滱cia do que fa蔞, de quem sou, de onde estou, de se eu sou". Na "trilogia do p鏀-guerra" o leitor ver?Beckett exercer toda sua destreza narrativa na cria誽o das personagens que podemos chamar de beckettianas por excel瘽cia - s緌 homens devastados, que reconhecem o fim inevit嫛el, e ainda assim aguardam. Mas essa espera, e o leitor o ver?logo nas primeiras linhas, ?feita de cria誽o liter嫫ia, fazendo com que a narrativa seja ela mesma um fim.